segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A beleza de um "corpo de verdade".

A modelo Tara Lyra que esta na atual capa da Elle Francesa  levanta novamente a questão de que a beleza feminina não pertence à magreza extrema frequente nos editais de moda, pelo contrário. É triste, mas nunca conheci alguém que mesmo satisfeita com sua aparência não tenha questionado se deveria ou queria mudar algo. Seja seu peso, sua cor de pele, o tamanho de seus seios, enfim. Além disso, trabalhando como atriz sou frequentemente requisitada a ser mais magra. "Você é novinha, tem um rosto bom, mas se um dia você quiser trabalhar na televisão - e é ali que mora o dinheiro - é melhor emagrecer uns 5 quilinhos". Frase cheia de preconceitos, mas com base em fatos dolorosos, basta assistir às novelas e batalhar por seu teatro e alguma estabilidade financeira para perceber.

Engraçado como raramente me incentivam tão enfáticamente quanto a formação ou a buscar referências culturais para ser uma artista melhor. Quando não era emagrecer - um "problema", mais "urgente" - a questão eram meus seios. Pequenos. Bonitos. Como diz uma personagem de Nelson Rodrigues cheia de malícia.

A moda do silicone cruzou meu pensamento rapidamente. Se eu decidir vai ser só um pouquinho para "continuar natural", dizia. Mas ao saber da possibilidade de perder um pouco da sensibilidade pensei: QUEM FARIA ISSO???? Trocar o prazer, pela estética. Uma amiga tempos depois, respondeu, ela era tão travada com o tamanho dos seus seios, que não conseguia ter qualquer prazer em tocar ou ser tocada, sua vergonha- sim vergonha!- a impedia de se permitir ter prazer. Ela travava. Depois do silicone, ela passou a se sentir desejada e ficou mais feliz. Compreendi a escolha -um problema psicológico, que foi resolvido (será?) com alguma economia até - analise poderia custar mais e demoraria muito mais. Mas, a verdade é que fiquei extremamente frustada com o aparente beco sem saída psicológico em que ela se meteu.

Voltando a bela modelo gordinha - ou "comfort" como falou-e-disse o divertido Xico Sá - e muito atraente/sexy/gostosa Tara Lyra chama atenção não apenas por tudo isso mas por ser REAL, uma beleza de VERDADE. O ideal de beleza que nos é imposto dia-a-dia está tão padronizado que ver beleza estampada numa revista, ainda mais em revistas de moda 'tradicional' - Tara fez também um belíssimo ensaio para a Vogue em 2010 - ou meninas de 12/14 anos idolatrando a Adele, ganhadora de seis Grammys neste ano - pessoalmente não sou fã da música, mas acho ótimo que minhas primas e sobrinhas adorem ela (como cantora, artista e mulher) e não apenas 'farinhas do mesmo saco' rihanas, beyonces e kate perrys- causem comentários descuidados e maldosos como os do estilista Karl Lagerfeld.

O Capitulo7 do livro "Mulheres que correm com lobos" (já citado neste blog),  "O corpo jubiloso: A carne selvagem ", fala justamente da importância de compreender o poder no corpo, de forma a aceitá-lo em todas as suas formas - que costumam nos dizer algo sobre nós mesmas (nossa história, nossa psique, quem foram nossos ancestrais). O capitulo nos leva também a refletir o quanto as mulheres são constantemente levadas para longe de sua natureza por exigências de um padrão estético social idealizado e doente. Vale a pena ler o livro.


Esta linda foto de Tara, circulou bastante pelas redes sociais em 
uma resposta-protesto sobre uma propaganda bem infeliz das academias Runner em São Paulo .

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